segunda-feira, 16 de abril de 2007

Um violinista

Quando vou dar aulas em Quatro Caminos, um bairro ao norte de Madrid, tenho que trocar de metrô na Estaçao de Novos Ministérios. Adoro passar por ali às 19 horas, quando a estaçao está repleta de gente. Pode parecer estranho, mas como sou uma observadora nata do comportamento humano, este horário é perfeito para a minha análise sociológica pessoal. Normalmente, neste horário e num cruzamento de corredores que leva a distintas linhas de metrôs, encontro um músico destes que toca durante horas e que, pelo menos para mim, alegra a passagem pelo lugar. Este músico é russo ou romeno ou húngaro ou búlgaro. Enfim, é do leste. Em alguns dias, ele toca cello; en outros, violino. Este cara é muuuuuuito bom! Adoro quando ouço seus acordes. Sempre deixo umas moedas e ele me sorri. Já somos quase amigos (rsss).
Hoje li no jornal uma pergunta que levou meu pensamento a este músico. A pergunta era: reconheceríamos um gênio do violino no metrô ou na rua? Motivo da pergunta: o violinista Ara Malikian, de origem libanesa e com grande prestígio na Espanha, esteve 35 minutos tocando obras de Bach, com um violino-relíquia do século XVIII, e nao foi reconhecido no metrô de Madrid. Centenas de pessoas passavam e nao se davam conta de sua virtuosidade. Para o músico, ficou evidente a diferença de tocar no Teatro Real e de tocar no metrô. A prediposiçao à arte nao é a mesma. Parece que arte nao combina com pressa, com ganha-pao, com pensamentos profundos ou com os habituais ipods e mp3. Depois de mais de meia hora, Malikian tinha recebido só um par de euros. Tadinho!
Acho que o "meu" violinista ganharia mais neste espaço de tempo, porque ele já é conhecido aí e, para nós, comuns mortais, ignorantes musicais, o reconhecimento do artista tem a ver com a familiaridade que temos com o mesmo.

7 comentários:

isa disse...

adorei tua reflexão, thelma! tem a ver, sim, com a familiaridade, com a empatia, e com a disposição de abrir os olhos e ouvir... beijos!

Adriana disse...

Thelma, a sua descriçao do comportamento humano esta emocionante...eu aqui em Coruña vou a Calle Real muitas vezes para ouvir um senhor tocar violino toca jazz que te embebeda com a sua musica, mas e verdade para ele nao pagamos o que pagariamos para ve-lo tocar no Teatro...

Beijinhos carinhosos do mesmo lado do oceano

Anônimo disse...

Cuánta verdad jamía. Pero reconozco que me pasaría lo mismo, no podría reconocer a un supermega genio en el metro. Simplemente no vas preparado y, a veces, ni escuchas la música. En fín, ¿cuando nos vemos? Pablo

Jose Luis disse...

Que bonito y que pena. Es verdad que vamos sordos y ciegos por este mundo ultimamente. Un beso grande y gracias por tus comentarios en mi blog. ¡¡TENGO GANAS DE VERTE!!
Ti dijo

Telejornalismo Fabico disse...

*



fiz um post sobre futilidade e aparência e tem muito a ver com o que vc propõe aqui.
gosto muito da idéia de mafesolli de que a forma é formante.
sim, embalagem faz diferença.
não é a toa que igreja é a casa de deus, que gente bonita é vista como saudável, e que se come primeiro com os olhos.

temos que admitir que esses pré-julgamentos fazem parte de nossa cultura e até, talvez, de nossa biologia.




*

Vivien Morgato : disse...

Li há algum tempo, um artigo sobre uma tese que falava da experiencia de ser invisivel: o pesquisador, aluno da usp, colocou as roupas de faxineiro e ficou, "invisivel", para seus proprios colegas e professores.
Consternador, triste.

Unknown disse...

Eu li essa história em algum lugar que não lembro, e que ele teria sido reconhecido por uma senhora que tinha assistido uma apresentação no teatro e pago uma nota.
É isso aí...

Bjim.